Hoje, pela primeira vez, desde quando eu cheguei, choveu mais forte que o normal, algo para amenizar os 35 graus de temperatura dasemana. O bom é que eu estava no alojamento e não precisei sair pela tarde, aliás, fiz melhor: dormi feito uma pedra. Acho que tava precisando recuperar algumas horas de sono.
Ontem foi aniversario da Mei, uma menina da China e, para comemorar, ela convidou todo mundo para uma festa de diferentes comidas e bebidas típicas – ou pelo menos, que lembre em alguma coisa seu país de origem. Como não poderia deixar de ser, eu e a Marília, outra brasileira, levamos os ingredientes para fazer uma caipirinha, porque mais cedo ou mais tarde esse dia ia chegar. Como não havia cachaça, nem limão haiti, utilizamos vodka e lima española.
Modéstia parte, foi um sucesso, todos aprovaram e até tiveram alguns que aprenderam a fazer. No mais, teve também brigadeiro, rolinho primavera (e outras comidas chinesas que eu jamais poderia reproduzir os nomes), sobremesas romenas, americanas, espanholas e por ai vai. Agora, quero fazer pão de queijo…já até pedi para a minha mãe mandar a receita…não que os bocadilhos daqui não sejam ótimos, mas tem um momento em que tudo que você quer é um café com pão de queijo.
Isso me fez lembrar de uma super decepção. Domingo, teve uma feirinha de comercio justo aqui em Logroño, com algumas comidas, bijuterias, música e outras coisas bacanas. Lá estou eu, dando uma olhada nos produtos, quando de repente me deparo com uma latinha de refrigerante de guaraná “do Brasil”. Apenas 0,80 centivos! Maravilha! Nem tava com TANTA saudade do guaraná assim, mas poxa, nada como tomar um refri da terrinha! O nome do infeliz era “guaranito” e como a lata era toda bonitinha, abri na hora e tomei. Aquilo desceu pior que remédio. MUITO ruim. Como pode? Como dá para errar em refrigerante de guaraná? Fui olhar mais detalhes da lata: “feito na Itália”. Ah, claro, guaraná do Brasil e feito na Itália…tinha tudo para dar errado mesmo. Tive que jogar o resto fora…
Mas tudo bem, o domingo foi salvo outros motivos, já que na pracinha perto do alojamento, um grupo de pessoas de uma associação riojana montou uma barraquinha para vender paella (com carne de coelho e frango). Eu sei que parece horrível, e os mais sensíveis que me perdoem, mas tava uma delicia. Aos domingos, como não temos as refeições no alojamento, ficamos por ali mesmo. Com 2 euros você ficava com um prato bem servido de paella mais um copinho de vinho. Uma alegría só!
Houve também a competição de bicicletas, a 50ª Vuelta Ciclista a La Rioja, e tinha conseguido as credenciais para fotografar. Foi muito bom para aprender como as coisas funcionam, pois eu nunca tinha acompanhado uma corrida de bikes antes, então no começo fiquei um pouco perdida, mas no fim tudo deu certo. Até consegui mandar algumas fotos para um site de ciclismo da Colômbia (tinha uma equipe colombiana competindo). Na chegada, estavam mais outros seis fotógrafos (todos com Canon, por sinal) e é muito engraçado ver como eles se comportam, seja reclamando do lugar que haviam reservado para a gente, seja trabalhando. Todos se conheciam e comentavam sobre outras corridas e outras coberturas. Puxei papo com um que trabalhava para o jornal La Rioja, uma dos maiores por aqui; perguntei como fazia para tentar arrumar alguma coisa por lá nesses meses; ele me passou uns nomes e agora que terminei de passar meu currículo para espanhol (com a ajuda de uma das professoras do curso, óbvio!), vou encaminar para eles. Não custa nada, não é mesmo?
E nesse sábado descobri um lugar ótimo para ver shows, chama-se Biribay Jazz Club. Se fosse em Pinda, se chamaria Óbvio. Na noite, tocaram a banda española Mutagenicos e a inglesa The Kits. Foi bem bacana, os espanhóis eram todos engraçados e subiram no palco com uma túnica laranja, sabe-se lá por qual motivo. Já os ingleses do The Kits que, no inicio,pareciam todos certinhos e finos, fizeram uma apresentação contagiante e descontrolada! Conhecia duas músicas só, porque tinha escutado um dia antes na internet, mas mesmo as desconhecidas para mim foram ótimas.É o que eu digo, como os ingleses conseguem ter bandas de rock tão boas.Mesmo aquelas que, aparentemente, você não dá nada, te surpreendem de alguma forma. Com certeza vou voltar no Biribay mais vezes. Tava precisando ouvir música ao vivo.
Semana passada aconteceu outro evento bacana também. Dia 23 de abril é o dia do livro (não me lembro se é no Brasil também) e aquí a tradição mais antiga e, em geral, mais ao sul do país é presentar alguém com um livro e uma flor, mas isso já não é mais tão comum. Agora o que acontece é que todas as livrarias ficam com todos os libros com 10% de desconto, durante a semana. Algumas até montam uma barraquinha para fora da loja, para chamar mais a atenção das pessoas. E para completar, nas compras acima de 15 euros, você leva uma garrafinha de vinho de La Rioja. É óbvio que eu fui dar uma olhada por lá e saí com dois livros que, além de gostar do resumo de quarta capa, tive que acreditar na publicidade e nas várias edições já lançadas de cada um para decidir levá-los para casa.
Comecei o curioso “La Mecánica del Corazón”, do francés Mathias Malzieu, que conta a história do menino Jack, que nasce com um coração danificado, e tem que substituí-lo por um relógio (não é uma história real, tá?). Mas em função do mecanismo frágil, ele precisa seguir três regras: 1. Não tocar nas agulhas do relógio, 2. Controlar sua raiva, 3. Nunca se apaixonar. É claro que ele se apaixona por uma linda dançarina española e parte da Escócia em busca dela por toda a Espanha. Bem bonitinho. O bacana desse livro é que foi escrito pelo cantor da banda francesa Dionisios. O nome do livro também é nome do sexto álbum do grupo e vai virar filme em breve, nas mãos do cineasta Luc Besson. Para quem quiser saber mais, segue o link da obra: http://www.lamecanicadelcorazon.com