Diário de bordo – TCC represa do Guarapiranga – parte 3

15 09 2009

foto por: Camila Pastorelli

9 de julho de 2009.

Por causa do feriado, o número de ônibus é menor e por conseqüência, a quantidade de pessoas dentro dele é maior. O dia está quente e ensolarado, o que para um ônibus cheio, não é o tempo ideal. O trajeto dura cerca de 1 hora, como o de costume, mas me sinto bem mais cansada. O desânimo deve ser por causa do calor e do fato de ser uma quinta-feira de um feriado e eu não estar em Pinda.

Ao pegar a lotação Rivieira, no terminal Santo Amaro, me informei com o motorista se havia uma parada em frente à entrada do Parque Ecológico Guarapiranga. Ele disse que sim, “nas duas”. Não sabia que existia mais de uma, portanto, tratei de ficar esperta para descer no lugar certo. Pela primeira vez, peguei uma dessas lotações, em uma situação que honra o nome: lotada. Era criança com sorvete de casquinha escorrendo, famílias com inúmeras sacolas de supermercado, crianças de colo, idosos, o tio querendo vender “pipoca doce, bacon fresquinho” e até um rapaz tentado ler um livro em meio todo o “apertamento”, calor e trilha sonora da rádio Tupi.

Por volta de duas e meia da tarde, cheguei ao Parque e me animei um pouco mais, afinal, havia saído da lotação e convenhamos, não tem como não gostar de entrar em um parque. Fui procurar o Marcos, gestor do lugar desde sua inauguração, em 1999. Não pensei em toda uma entrevista com ele, até porque, talvez ele não estivesse, mas quando conversamos pelo telefone, ficou de deixar um banner e alguns folhetos para mim.

Acontece que ele foi trabalhar no feriado e começamos a conversar um pouco sobre qual a ideia do parque, o que ele oferece e essas coisas todas. Descobri que entre o decreto para a sua criação e a real inauguração, houve um período de 10 anos. Por causa disso, a região que era para ter 330 hectares, foi para 250. Os outros 50 já estavam ocupados.

Quanto mais eu converso com as pessoas que moram ali, mas percebo o quão complicado é falar de meio ambiente num lugar, onde a prioridade não é o meio ambiente, mas sim a subsistência, como bem disse o Marcos. Não que a preocupação não exista. Em alguns casos, percebe-se a degradação da região e movimenta-se para que ela não avance. Como me contou a Maria, moradora do Bolonha, no Jardim Ângela. Com a iniciativa de seu amigo indígena, ela e alguns jovens ajudavam a apagar o fogo da mata, quando pessoas, por sabe-se lá que motivos, resolviam incendiar algumas áreas do Parque.

Contudo, o que há em comum entre Maria e Marcos, duas pessoas vindas de realidades bem diferentes, mas que atualmente vivem no extremo sul da cidade? O aprendizado.

….

Continua.





Represa da Guarapiranga é ameaçada pela poluição.

16 08 2009

Matéria bem realizada pela série Rios de São Paulo, da TV Globo.

Confira aqui.





Diário de bordo – TCC represa do Guarapiranga – parte 1

29 06 2009

Foto por Camila Pastorelli

17 de junho de 2009

“Tem gente que mora aqui e nunca foi para o centro”. Depois de um percurso de quase duas horas que teve início na rua da Consolação, no centro da capital paulista, chegou até o Terminal Santo Amaro, e passava pela estrada do Rivieira, na zona Sul, a conversa entre os passageiros da lotação 6028 – Rivieira mostrava que a questão da moradia não era apenas de meu interesse.

A senhora de fala alta e despojada, com o filho ainda criança, comenta com o homem sentado ao seu lado, sobre como está difícil e caro encontrar casas para alugar por ali e diz também que só sai do bairro se for para morar no centro da cidade ou voltar para o norte – só que nesse caso, não o da cidade, mas o do país.

O caminho que o ônibus percorre até a região da represa do Guarapiranga – cerca de 30 quilômetros da zona central -, mostra as diversidades de uma cidade que não é apenas uma, e sim várias. O quase silêncio que reina entre os passageiros da avenida Paulista, concentrados em seu próprio livro, sono ou música no fone de ouvido muda a medida que o circular roda pelos emaranhados de asfalto a perder de vista.

O ar vai ficando mais puro e o cheiro do vento, antes ora com toques de fumaça , ora esgoto, fica mais gostoso de ser sentido. Da mesma forma, as pessoas, já sem os fones de ouvido, conversam e riem entre si. A pequena lotação transporta quase sempre conhecidos – vizinhos, talvez – que cumprimentam a cobradora e falam para ela passar o recado, “Pede para a sua mãe me ligar… quero ver se desocuparam a casa mesmo, porque o Cláudio tá querendo alugar.”

Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo. Sim, porque eu ainda quero o meu diploma.