Suas histórias num museu?

18 09 2008

Pessoas gostam de ouvir histórias de outras pessoas.

Esse é um sentimento quase que universal, e ouvimos bastante na faculdade que, ao escrever uma matéria, você deve se focar nas pessoas e em o que elas estão falando.

Foi em função de um trabalho na mesma faculdade, que não sei porque-raios me lembrei do site Museu da Pessoa. Até já havia ouvido falar sobre a proposta, mas nunca tinha ido mais a fundo para saber exatamente o que o pessoal de lá faz. Bom, agora que já dei uma boa navegada pelo portal, posso dizer que me encantei.

A idéia é simples: Deixar um canal aberto para que qualquer pessoa conte a sua história. E para isso há diversas formas: áudio, texto, fotos e vídeo. Sim, você pode marcar um horário com o Museu e agendar o seu depoimento. Será feita uma entrevista com dois pesquisadores, e a partir daí é só começar a falar. Ao final, você ganha um dvd com o seu relato e parte da entrevista é colocada no site, como foi a da Dona Neuza, que eu encontrei aqui no Youtube – mas também tem na página deles.

Devo confessar que me senti tentada a marcar um horário no Museu, sabia? Na verdade, pensei primeiro em falar para o meu pai ir contar um pouco da história dele, da família – ele gosta bastante dessas coisas. Mas acho que vou acabar indo junto – e acho que você devia pensar no assunto também, por que não?

Contar histórias não chega a ser uma arte, talvez a arte esteja em saber ouvir e se encantar com elas. Acredito que uma iniciativa como essa ajuda a quebrar certas distorções que o nosso mundinho-sem-pé-nem-cabeça criou e que hoje ataca com mais força do que nunca: a banalização do homem. É aquele papo, que já comentei aqui, que uma morte não incomoda mais, só acima as acimas de cem, quinhentos,…. Talvez se a gente se preocupasse em conhecer mais a vida da outra pessoa, ela não parecesse tão massa-disforme do nosso lado.

Se tiver um tempinho, passe pelo site e ouça, veja ou leia algumas histórias, como a da Suely Montenegro, que nasceu em São Paulo, em 1954, e fabricava seus próprios brinquedos com barro, madeira e mato: “Fazíamos panelinhas, mesas, cadeiras e tantas coisas que hoje penso como deve ser sem graça pegar os brinquedos prontos e não inventar nada. Creio que seja por isso que hoje as crianças ficam tanto tempo no computador.”

Para saber mais do projeto Museu da Pessoa, vale à pena conferir o artigo da Karen Worcman.





Metrô. O meu, o seu, o nosso.

5 09 2008

Talvez uma das coisas que mais me irrita em São Paulo é ter que pegar o metrô em horário de pico, tipo 18h. Ontem foi um desses momentos. Lá fora, no segundo dia mais quente do ano, chegamos à temperatura de 32ºC. Ah, sim, e estamos no inverno, queridão. Já deu pra imaginar como vai ser em novembro e dezembro? Pois é.

Enfim, fui toda apressada, como se estivesse numa corrida pra ver quem chega no vagão primeiro, e de fato, não deixa de ser uma corrida. Contra quem? Contra os outros quinhentos passageiros que também querem entrar naquele vagão. Corremos. Corremos e suamos, porque está calor. E os cheiros se misturam com os dos salgadinhos – que alguém decidiu que seria uma ÓTIMA idéia abrir bem ali naquele bafão -, com a fumaça de cigarro que parece que já está dentro em cada um de nós.

O caso ontem foi atípico, mas como já ocorre com uma certa regularidade, parece não mais impressionar. Ao chegar na Sé para fazer a conhecida “baldiação” (nome péssimo), me deparei, logo no meio da escada rolante com um mar humano. E pude ter a incrível sensação de me sentir um saquinho de arroz na esteira de um caixa de supermercado, quando o operador do caixa esquece de desapertar o botão que faz a esteira rolar, e todos nós – o arroz, a bolacha, os tomates e a pasta-de-dente se amontoam, porque não têm para onde ir. As pessoas se trombavam, não havia saída. Até que alguém teve o insight de desligar a escada.

Vem a voz no alto-falante: Em função de usuário na via, na região de Armênia, a circulação do metrô está…..interrompida. 18h25 da tarde. Caos urbano. Só que antes de começar a maldizer Deus e o mundo, eu fiquei pensando: Usuário na via. Suicídio de novo? As notícias que saem sobre isso são muito escassas, não sei se por falta de interesse dos jornalistas, se por bom senso dos mesmos, ou se é o metrô que evita falar sobre isso.

Fiquei um pouco deprimida com tudo aquilo, espremida entre outros tantos desconhecidos, com fome, calor e cansaço. E ainda ter que ouvir comentários do tipo, “Se vai se matar, vai fazer isso em outro lugar. Atrapalhar todo mundo por causa disso.” E devia ser o pensamento de pelo menos metade das pessoas que estavam ali. É cruel, mas é verdade e é compreensível. De um modo estranhíssimo, mas é compreensível. Se você tem que entrar nessa algomeração pelo menos duas vezes por dia – na ida e na volta do trabalho ou da faculdade – sabe como é ser empurrado, chutado e xingado, tudo isso ao mesmo tempo.

As pessoas tem outros padrões e outras prioridades. 5 mortes ou 50, não assustam mais. 500 já pode impressionar. É tudo muito distante e muito banal. De quem é a culpa de tudo isso? Não sei. Das pessoas que estão ali no aperto do metrô, esperando para ir pra casa, é que não é.

Mas poxa, bem ou mal, uma pessoa (possivelmente) morreu ali perto. Não é de sentir, pelo menos, um arrepio no braço? Eu senti.

De qualquer maneira, 5 minutos depois, os trens voltaram a circular, as risadas a ecoar e os salgadinhos a feder. Chega disso. Que horas é a novela mesmo?