Olhos Tristes.

25 02 2009

Pós-aniversário. Pós-carnaval.
Nem sei o que escrever aqui.

Num futuro breve, espero conseguir ouvir essa música sem chorar.





Such Thing as Eternal Happiness Does Not Exist.

14 02 2009

Nos últimos tempos tenho criado teorias pessoais para aquelas coisas que não dão muito certo na vida. Já culpei o final do ano, já pensei em inferno astral pré-aniversário e já maldisse os anos ímpares. Tudo isso é um bando de besteira.

 

Existem alguns textos, livros ou músicas que conseguem ter um efeito devastador em mim – no bom e no mau sentido. Clarice Lispector é um deles. A maneira que essa mulher escreve e narra devaneios psicológicos é algo que mexe com cada fio de cabelo da minha cabeça. E me influencia no modo de ver o mundo e na minha forma de escrever. Há tempos que não a visito.

 

Essa semana, realizei uma belíssima aquisição. Do tipo que balança a nossa vida e que dá vontade de mostrar para todo mundo poder conhecer também. O Olho da Rua, mais novo livro da jornalista gaúcha Eliane Brum, é uma coletânea com as dez melhores reportagens dela realizadas para a Revista Época. Todas vêm com textos da Eliane, comentando os “bastidores das notícias”.

 

O livro tem uma história – entre várias outras ótimas – que me chamou especial atenção. O inimigo sou eu. Uma reportagem na qual a jornalista passou dez dias em um retiro de meditação Vipassana. Está disponível também no site da Época, como acredito que todas as outras estejam. Algumas frases são muito bem feitas e eu quero compartilhar aqui com vocês:

 

“A idéia básica está presente em diferentes linhas do budismo: o que nos faz sofrer é o apego. Na vida, o apego se manifesta por uma reação de cobiça ou aversão. Queremos continuar sentindo o que nos dá prazer e não aceitamos sentir o que nos causa algum tipo de dor. Se aprendermos a arte do desapego – ou seja, não cobiçar o prazer nem sentir aversão pela dor –, a fonte do sofrimento estanca. Para isso, precisamos compreender que a vida é impermanência. Que nada dura, nem o prazer nem a dor.”

 

Essa história me lembra um pouco o filme O Curioso Caso de Benjamin Button, a linda e original história de amor, que tem como antagonista o tempo. Ele nos mostra o óbvio, sem ser óbvio: a vida é efêmera e impermanente. A perfeição, na verdade, não existe. E a busca por ela faz com que nós nos percamos na não-apreciação do presente imediato. Isso só traz o sofrimento.

 

Por que comecei falando das teorias pessoais e da Clarice no começo, se queria falar apenas de um livro? Bom, o meu propósito aqui é dizer que eu estava enganada a respeito de algumas coisas pelas quais vinha surtando nos últimos tempos. Tenho certeza que esse ano, apesar de ímpar, vai ser marcante e decisivo na minha vida. Quero fazer dele um acúmulo de fatos inéditos. Até o momento, tenho conseguido.

 

E, especialmente hoje, agradeço à Eliane Brum por esse livro (E me culpo de não tê-la conhecido antes, pelo simples folhear de uma revista). Ele é inspirador. Que todos nós, futuros jornalistas, consigamos ter um terço da sensibilidade e da imersão de seu texto. E va a napoli  todo o papo de objetividade e imparcialidade jornalística:

 

“Nossa época acredita que é possível viver sem sentir nenhum tipo de dor, física ou psíquica. Não ter dor se tornou quase um direito. Basta uma pontada na cabeça, que já corremos a tomar uma pílula. Basta uma tristeza real, para que imediatamente nos ofereçam um antidepressivo. Não queremos menstruar nem ter dor de parto, qualquer desentendimento com o chefe acaba com nosso dia, desistimos de um amor no primeiro percalço, por acreditar que merecemos a felicidade eterna. Não podemos nem sentir calor ou frio, para isso há ar-condicionado. Parece que não queremos é viver.”