Jornal sem jornalista.

19 06 2009

O curso de jornalismo chegou a um estado tão ruim, que fez com que as pessoas passassem a acreditar que ele já não é mais necessário para a profissão. Pois foi isso mesmo que se discutiu: a necessidade ou não do curso de jornalismo, e não a de um simples diploma. Diploma é apenas o pedaço de papel que somos autorizados a segurar depois de quatro – para alguns mais – anos de universidade. E olha só que surpresa! O problema está onde? Na educação. Ela de novo.
Esquecemos – e me incluo nessa – de qual é a postura de um profissional de jornalismo. Esquecemos que não é só saber escrever bem e ler muitos livros; esquecemos que não é só ouvir os dois lados da história; esquecemos que não é só traduzir os jargões dos especialistas; esquecemos que não é só alimentar o ego ao ler nosso nome acima de um texto. É tudo isso junto, e mais a responsabilidade com a informação que você tem na mão.
E na faculdade não lembramos dessas coisas. Por isso, fazemos com que quem está de fora pense que, com faculdade ou sem faculdade, o profissional é o mesmo. Não é.
Até ontem, era muito fácil ser um jornalista medíocre. Tão fácil, que muitas vezes nós somos. Hoje, a situação ficou um pouco pior. Que pena.





Com diploma ou sem diploma?

5 04 2009

Acho que tudo acaba em piada mesmo em 1º de abril. A votação no Superior Tribunal Federal que iria decidir a respeito da Lei de Imprensa e da obrigatoriedade do diploma foi adiada para o dia 15 de abril. No final do ano passado, quando a discussão retomavamais um momento de exaltação, fiz um texto para uma discilpina do curso a respeito de todo esse “para ser jornalista, tem que fazer faculdade?”. Queria compartilhar aqui, até porque continuo com o mesmo pensamento, e depois da Páscoa tem mais.


diplomajornalista

 

Quando se inicia num curso superior para se tornar jornalista, logo surge a pergunta se o calouro gosta de ler e de escrever. Prontamente, todos respondem que sim e que foi esse um dos motivos que os ajudaram a escolher essa profissão. Entretanto, sabemos que por mais que esse seja um argumento válido, não é isso que faz de uma pessoa um profissional da comunicação. Ler muito e escrever bastante faz de você uma pessoa melhor, mais cidadã, mais consciente dos seus direitos e dos direitos das outras pessoas, o que pode fazer com que você, eventualmente, se inquiete com algumas questões do seu país ou de outros países.

 

Esse sentimento de inquietação é sim uma das características fundamentais de um jornalista, mais do que gostar de ler e escrever. Só que também não basta apenas isso, é preciso ir além: procurar informações, procurar pessoas, ouvi-las, pesquisar sobre o assunto, checar diferentes informações, confrontar dados, checar de novo as informações, obter uma diversidade de visões e, por fim, montar um texto que deixe toda essa pesquisa sobre um tema, claro, acessível e coerente.

 

Em razão de todo esse trabalho – que não se nasce sabendo – é que defendo a obrigatoriedade da formação superior para o exercício da profissão jornalística. Gostar de ler e escrever é um dos pressupostos para ingressar no curso, mas a partir daí, uma série de novas competências devem ser aprendidas e trabalhadas para que se forme um bom profissional, que irá lidar não somente com dados e informações, mas com pessoas e com histórias de vida.

 

Essa é a parte utópica que existe em toda profissão – médicos querem salvar vidas, advogados querem que a justiça prevaleça. Entretanto, ao ingressar num curso de jornalismo, sabemos que a realidade que temos é um pouco diferente. Alunos muito novos e sem maturidade para decidir se essa é realmente a melhor profissão para si; falta de interesse em se aprofundar nos estudos teóricos; grades curriculares muito boas, mas que na prática expõem professores desanimados ou mal preparados para ensinar; falta de interação entre o mundo acadêmico e o mercado de trabalho.

 

Assim, é fácil bradar que as universidades não formam um bom jornalista para atuar nos meios de comunicação e que a obrigatoriedade do diploma para essa função é desnecessária. As universidades não formam mesmo, aliás, melhor dizendo, não formam sozinhas, uma vez que mais da metade dessa formação tem que partir do aluno. A universidade tem que mostrar o caminho, não carregar no colo. Bons cursos sabem mostrar o caminho e instigam o aluno a seguir por ele, já os cursos ruins não o fazem, e jogam para o mercado “fazedores de texto com deadline” ou “fazedores de texto institucionais”.

 

O que acredito que se deve analisar ao se discutir sobre o diploma de jornalista é a respeito da qualidade dos cursos, ou seja, a discussão se amplia para um problema que o país atravessa (e que não é de hoje): educação. Temos que voltar os olhos para o ensino fundamental e médio. Como eles vêm formando os jovens brasileiros? Através do uso do raciocínio e da criatividade ou através do copia-aí-o-que-eu-escrevo-aqui-que-você-passa-de-ano?

 

Pois o ensino superior não faz milagres, não vai formar um jovem de 20 anos e deixá-lo apto, como cidadão e profissional, para ingressar no mercado de trabalho. Acredito na necessidade da experiência acadêmica e na sua obrigatoriedade para exercer o jornalismo e qualquer outra profissão, mas para isso, os nossos olhos têm que se voltar para a revisão na educação, e não na sua conclusão formal, o simples diploma.